Os "outros"


Hoje estou assanhada por causa de um comentariozinho estúpido e extremamente mal educado: "Estás disforme!" É daquelas coisas que não se dizem, ok?

Então vamos deitar isto tudo fora, que há tempos que ando para me zangar com "os outros" - leia-se "os magros".

Começando, é certo e sabido que os outros têm sobre nós uma inegável influência, e invariavelmente pensam que por serem magros são melhores do que nós.

Dizem que o mundo é dos audazes, e se calhar têm razão, mas mais que bravura, a magreza determina a popularidade e a aceitação. No meu caso, sou tímida e a 2ª pessoa mais gorda do meu trabalho - logo estou socialmente num nível abaixo de todos os outros. Isso é-me lembrado todos os dias, não propriamente com palavras, mas com olhares e atitudes.

Toda a gente quer ficar magro, basicamente porque sim. É a moda. Longe, muito longe vão as ninfas nutridas das pinturas dos mestres como Rubens, já lá vai o tempo da "gordura é formusura"... O que está a dar é magreza muitas vezes extrema, e que levam, por pressão dos padrões sociais actuais, a doenças como a anorexia e a bulimia. Podem matar, mas isso é um risco aceitável para o objectivo de se ser magro. E essas pobres pessoínhas são olhadas com simpatia, coitadas.

Mas uma pessoa com excesso de peso é uma preguiçosa nojenta, que passa a vida com a cara enfiada em lasanhas e McDonalds...

Hoje em dia a obesidade é a epidemia do século XXI e os gordos são cidadãos de segunda - o que é uma tremenda injustiça, já se vê. Não que sejam propriamente cidadãos inferiores, mas é assim que são tratados, e exemplos não faltam, a começar pelas roupas.

As roupas dos outros são giras, as nossas são feias, não nos favorecem e até ficamos piores, pois parecemos uns sacos de batatas. Experimentem ir à secção de tamanhos grandes e vêm o que eu quero dizer. Padrões horrorosos, cores escuras, formas tubulares, túnicas compridas...

Nós, as senhoras, se acaso temos de vestir melhor para uma cerimónia, estamos tramadas. Não há outro remédio senão ir à Elena Miró e pagar 150 por uma saia...

Aqui há uns anos valente houve uma campanha do Mark&Spencer, onde apareciam roupas etiquetadas com o 44, e o slogan era "Sou uma mulher normal". Fiquei quase enternecida, porque visto preecisamente o 44. Abençoado M&S!

Ninguém é gordo porque quer. Há problemas de saúde e medicamentos que levam a esse estado, não pondo de lado o pecado da gula, claro. Eu, por exemplo, tenho plena consciência de que não tenho uma alimentação regrada (gosto demasiado de hidratos de carbono + como porções maiores do que devia), mas tomo também medicação que interfere com o peso. E não sou totalmente feliz, apenas porque tenho plena consciência de que sou olhada de cima para baixo, e isso destrói-me a autoestima.

Por isso, aos magros que nos olham com olhar reprovador de cima do pedestal (que não são todos, note-se bem), desejo apenas o seguinte: que ganhem peso na exacta proporção em que eu o vou perder.

Talvez assim nos compreendam e deixem de ser pedantes.

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