Assalto ao Frigorífico



Desde que me lembro que assalto a despensa ou o frigorífico. Também desde que me lembro ando em consultas de psiquiatria, primeiro por causa de uma eventual epilepsia, depois por causa de alterações do humor.

É lógico concluir que as duas coisas estão ligadas. Porque a comida para mim, mais do que um prazer imenso, é uma necessidade de suprir o vazio emocional que muitas vezes sinto.

Dá-me de repente uma vontade incontrolável de me consolar com o que estiver à mão, doce ou salgado - mas de preferência salgado. Ele é queijo, ele é fiambre, ele é o que houver, e em quantidades industriais. E se não houver nada já feito, faço.

Tal como as tostas integrais (note-se o integral) que ontem me deu para comer a meio de um dia de dieta até à altura perfeita... mas o pior é que com as tostas veio a maionese... era sem colesterol, mas ainda assim não há justificação plausível a não ser a obsessão compulsiva de comer, não por fome, mas porque sim.

Apenas porque sim. E na altura, não sinto o mínimo sentimento de culpa. Só horas mais tarde é que me sinto fula da vida comigo mesma. Caramba, estragar um dia de dieta perfeita!

É assim, e tem sido assim toda a minha vida.

Sempre houve quem me fizesse sarcásticos comentários de censura, como o meu marido, que me pergunta "se calhar tenho de arranjar um frigorífico para mim", ao que eu respondo "se calhar é boa ideia!"

Mas nunca houve uma observação do género "Porque é que fazes isso, se não tens fome? Passa-se alguma coisa, andas nervosa?"

Outro ponto interessante é o facto de tanto fazer disparates a meio da noite como em plena luz do dia, sem problemas nenhuns. Não o faço às escondidas. Simplesmente há alturas em que tem mesmo que ser e pronto. Sei perfeitamente que faço mal - por isso me sinto zangada umas horas depois.

Mas a verdade é que estou ciente de que isto é um transtorno alimentar, parecido com a bulimia, mas sem deitar fora depois. Mas se as pessoas com Bulimia Nervosa são "coitadinhas, é uma doença, não fazem por mal" já pessoas com Transtorno do Comer Compulsivo (sim, é este o termo médico) não passam de gulosos sem remédio, e por isso é que são gordos desprezíveis que não têm "força de vontade".

Posto isto, está visto que eu sou uma mulher tremendamente corajosa em estar embarcada nesta longa e árdua viagem até ao peso saudável!

Viva EU!

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